quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008


'será?

Mais uma vez sozinha. Jogada no sofá, maquiagem borrada de lágrimas, rodeada de bebidas e bitucas de cigarro. Televisão no último volume, rádio ligado, relógio despertando e campainha tocando. Ele chegou? Não, o jornal.



declaro que:

Respiro meu desejo. Não sei ser meio termo. Vejo aquilo que não existe. Sinto aquilo que quero. Meu pensamento me persegue. Tudo me atordoa. Me cobro, me dobro, machuco e me mato. Mesmo assim, continuo esperando por alguém que não vem.



verdade

Pessoas que amam sem correspondência, têm músicas para sofrer mais ainda. Feitas para isso, especialmente para chorar, elocubrar e curtir a solidão. Elas acreditam nisso piamente. Pessoas apaixonadas colocam música para o outro ouvir e dizem: essa dor é minha.



ele

O silêncio gritava dentro dela. Cansada das palavras, todas gastas, quando ele foi embora, não derramou uma lágrima. Ficou ali, sentada, sem sentir nada. O vazio preenchia tudo. Em suas veias já corria a certeza de que a cicatriz já estava pronta, antes mesmo da ferida ser feita. Ela o amava solitariamente e ainda continua a amá-lo, mesmo depois do monóxido de carbono que inalou ao esperar ele voltar. Sim, ali, sentadinha no carro, dentro da garagem.



assim na terra como no céu

Ela não pensou, entrou em casa direto pro banheiro. Abriu o armário e procurou desesperadamente pela lâmina de barbear mais afiada. Olhou uma por uma. Analisou-as de maneira metódica. Cortou-se de maneira singela. De um pulso ao outro. Agora ela não sofre mais por ele. Agora ele não tem mais dó dela. Mais fácil levar flores ao seu túmulo, do que amá-la em vida. Enfim só. Como sempre.'

2 comentários:

Augusto Andrade disse...

Adorei o texto...
...envolvente todo esse sentimento que abate esse ser. Estranho isso, mas bastante legal.

BEijoO.

Fr. Dhael disse...

Encontre o corpo e saberá que ali, no fundo, somos todos nós.
A única coisa que me entriga é o que o carro estava fazendo ligado na garagem!?..RS
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...E a lamina Chorou rubramente aquele instante posterior.